domingo, 14 de maio de 2017

Intolerância e Criatividade

Veronica era professora de língua portuguesa a vinte e dois anos, seus filhos estavam estudando na faculdade. Apesar dos problemas no serviço sempre gostou desta profissão. Pois contribuindo com a educação escolar estava ajudando a construir um mundo melhor. Ela morava na cidade Alvorada Brilhante, neste ano foi lecionar na Escola Padre José de Anchieta localizada no bairro Boa Esperança. Neste local havia pessoas carentes, moravam em casas simples e vestiam roupas comuns. Apesar das dificuldades sorriam felizes.
Nesta escola Veronica daria aula de manhã em uma classe de sexta série e na parte da tarde em outra da sétima série. Animada afirmava ajudar  no ensino da  língua portuguesa a leitura de livros, jornais e revistas. No primeiro dia de aula comunicaram que a aluna Ester da sexta série era excepcional. Além da deficiência mental era nervosa, não gostava de tomar banho e pentear os cabelos. Com doze anos frequentava a escola porque a mãe dela trabalhava de merendeira. Sendo uma mulher divorciada não tinha outro lugar para deixar a filha. Veronica notou Ester sentir-se excluída da  sociedade, por isto decidiu ajuda-la a melhorar sua aprendizagem em ler e escrever. Aproximou-se dela, com paciência a ensinava como escrever palavras e ler pequenos textos e poesias. Vagarosamente começou a mudar o comportamento de Ester, pois começou a gostar de tomar banho e penteava os seus cabelos. Enquanto ela se divertia lendo e escrevendo não perturbava mais as aulas com o seu nervosismo.
Na mesma sala de aula após dois meses a professora percebeu as dificuldades do aluno Josias em falar a língua portuguesa corretamente. Na redação do menino tinha muitas palavras escritas erradas, havia problemas de regência. A mãe dele era semianalfabeta. Sorrindo Veronica comentou que o menino não deveria colocar na linguagem escrita todas as palavras utilizadas na linguagem falada. Quando ele fizer uma redação precisa obedecer as normas de gramatica. Chateado Josias afirmou que iria abandonar a escola por ter dificuldades nos estudos. Sorrindo a professora pediu para ele se acalmar, com seus doze anos teria que aprender muitas disciplinas escolares. Pediu para fazer varias redações e as entregar a ela, assim iria ajuda-lo a corrigir os seus erros gramaticais e o orientaria para fazer boas redações. Comovido Josias abraçou a professora.
Passadas duas semanas Madalena professora de inglês comentou que na sétima série da tarde estava tendo problemas em ensinar a língua estrangeira a Rute. No outro dia quando falou good morning ela ficou brava por detestar jogar gude. Os outros alunos riram, precisou explicar que se confundiu, a palavra good morning traduzida em português significa  bom dia.
Na ultima aula depois de escrever na lousa os dias da semana em inglês quando leu Sunday a aluna Rute comentou estar com vontade de chupar  sundae. Os outros estudantes riram, precisou explicar que Sunday quando é traduzido significa domingo. Aquela adolescente se confundia na aprendizagem da língua inglesa, precisava fazer uma revisão da língua portuguesa. Veronica percebeu que além dela os outros alunos precisavam compreender melhor a língua portuguesa. Pediu para lerem o livro A Língua de Eulália de Marcos Bagno. Desejando melhorar a gramatica dos seus alunos utilizaria o livro Moderna Gramatica Portuguesa de Evanildo Bechara. Animada comentou que faria uma revisão de língua portuguesa, pois os estudantes iriam melhorar a sua compreensão na língua portuguesa.
Passados dez dias Veronica retirou metade do seu pagamento no caixa eletrônico antes de ir à escola. Enquanto lecionava na sétima série escreveu um exercício na lousa. Enquanto os alunos o faziam retirou da bolsa sua carteira e começou a contar o dinheiro. Vários estudantes se aproximaram dela pedindo explicações. No intervalo quando foi pagar o perfume à outra professora havia desaparecido duas notas de R$100,00. Ficou desconfiada que alguém  roubou este dinheiro. Retornou a sala de aula, chateada pediu para devolverem as duas notas de dinheiro.
Os alunos negaram tê-la roubado, alguns olhavam a Miquéias acusando-o do roubo. Este adolescente mulato tinha treze anos e morava na casa da avó Maria. O pai dele vivia em outra cidade e a mãe trocava de namorado toda semana.  Há dez meses o irmão João viciado em drogas morreu baleado enquanto assaltava uma lanchonete. Bravo Miquéias mandou revistarem as suas coisas porque o acusavam de ter cometido um crime. Após conversarem por trinta minutos nervosa Veronica pediu desculpas por aquele ato inconveniente.
Passados alguns dias numa sexta-feira os alunos e professores da Escola Padre José de Anchieta foram passear com vários ônibus na fazenda Estrela Dourada. Como era um lugar histórico tinha uma mansão e a igreja construídas no inicio do século XX. Criavam frangos, ovelhas e gado. Animados mostravam essas novidades aos alunos. Neste dia foram mais duas escolas visitarem este local.
Depois do almoço uma aluna de uma escola particular não encontrou o telefone celular novo em sua bolsa. Aflita comentava ter sido roubada. De repente olhou para Miquéias e gritou que aquele cara a encarava desde que  chegou  na fazenda. Talvez foi ele quem roubou  o seu smartphone.  Confuso o rapaz não a conhecia e estavam acusando-o de um roubo. Ester, Rute e Josias  defenderam o amigo. Houve uma discussão, os quatro adolescentes saíram correndo do restaurante. Após quarenta minutos a faxineira encontrou um telefone celular no banheiro feminino. O gerente conversou com os professores. Este smartphone era o da moça que pensava ter sido roubada, mas o esquecera no toalete.
Às dezesseis horas os ônibus retornariam as escolas. Não entraram no veiculo Miquéias, Josias, Rute e Ester. Os professores e funcionários começaram a procura-los na fazenda. Veronica dirigiu-se a lagoa, contente encontrou os seus alunos. Contou que aquela moça esqueceu o telefone celular no banheiro. Chateado Miquéias pediu desculpas, pois estava desesperado quando pegou os R$200,00 da professora. O namorado da mãe dele roubou a aposentadoria da avó Maria, precisavam comprar comida e remédio.  Veronica o perdoou, quando ele tivesse algum problema deveria  pedir ajuda na escola.
Emocionados eles se abraçaram. Então ouviram um trovão, em breve choveria. Começou a ventar, acharam melhor retornar a sede da fazenda. Devido ao temporal entraram em uma casa velha. As alunas sentiram medo, com trovões e relâmpagos Veronica ficou nervosa. Josias e Miquéias viram as paredes desta construção feitas com madeiras balançarem, pois estavam deterioradas. Assustados foram ao porão. Passados alguns minutos a casa desmoronou. Desesperados gritaram, apesar do susto não se feriram, mas estavam presos no porão. Apavoradas Ester e Rute choravam.
Assustados ouviram o barulho dos trovões, estavam presos em um porão escuro.  A professora abraçou as duas alunas e comentou que deveriam rezar a Deus para enviar alguém e os libertar desta prisão. Ester com sua mão direita pegou do seu cordão uma pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. Sorrindo falou que todas as vezes que precisou a Mãezinha do Céu sempre a socorreu. A devoção de Nossa Senhora Aparecida surgiu no dia 12 de outubro em 1717 quando três pescadores no rio Paraíba do Sul a pegaram em suas redes. Primeiro apareceu uma escultura  representando uma mulher e estava sem cabeça. A seguir lançaram as redes no rio, quando a puxaram de volta encontraram a cabeça esculpida. Colocando-a ao lado do corpo notaram que eram partes de uma mesma peça a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A imagem feita de barro escuro e com suave sorriso no rosto encantava as pessoas. Esta escultura foi um grande presente de Deus a América Latina. Desde a sua aparição milhões de pessoas foram convertidas e conseguiram graças perante a sua intercessão.
Rute afirmou ser devota de Nossa Senhora que apareceu aos irmãos Jacinta com nove anos, Francisco com dez anos e a prima Lúcia no dia 13 de maio de 1917 em Fátima, Portugal. A Santa apareceu por seis vezes aos pastorzinhos sempre no dia 13 de cada mês, sua ultima aparição foi no dia 13  de outubro de 1917 . Nossa Senhora pedia a conversão dos pecadores. Além de Nossa Senhora a adolescente rezava e pedia a intercessão dos irmãos Jacinta e Francisco Marto. No dia 13 de maio de 1917 o Papa Francisco os canonizou. O menino Francisco era chamado de “o consolador” porque desejava consolar as pessoas com a oração de Nossa Senhora. Ele sempre tinha o terço nas mãos, faleceu em 04 de abril de 2019 de febre espanhola. Após dez meses no dia 20 de fevereiro de 1920 Jacinta morreu no hospital em Lisboa. A menina ofereceu o seu sofrimento pela conversão dos pecadores. Depois do falecimento dos irmãos a fama de santidade deles se espalhou pelo  mundo. Comovida Rute rezava aos pastorzinhos pedindo suas intercessões a Deus naquele momento difícil.
Josias iria rezar ao Papai do Céu pedindo a ajuda dele. Vários lideres religiosos transformaram Deus Pai em um tirano afirmando se não seguirmos os ensinamentos do Criador os nossos  espíritos irão ao inferno quando morrermos. Outros são conformistas, pois quando veem o sofrimento dos nossos semelhantes carentes cometam que serão compensados quando morrerem, Deus os receberá no céu. Eles não fazem nada para construírem um mundo mais fraterno. O Papai do Céu é amor e vida. Deseja ver os seus filhos cuidando-se uns dos outros e apreciando a natureza. Emocionado rezou o salmo 65, 2-4:
O Deus verdadeiro é assim
Ó Mestre, tu mereces um hino em Sião.
Nós viemos aqui pagar as promessas,
Porque tu ouves as súplicas.
Todas as pessoas vêm a ti
Por causa de seus pecados.
Nossas faltas nos esmagam,
Mas tu perdoas nossas culpas.
Miquéias rezou a Jesus Cristo porque amou tanto os seres humanos que morreu crucificado e ressuscitou no terceiro dia para liberta-los do pecado. Em vez de amor e solidariedade muitos ensinam a juventude a resolverem os seus problemas através da violência. Em muitos bairros carentes as crianças e adolescentes sentiam fome, não possuíam vestuário, sofriam preconceitos e discriminações.  Além de não serem amados eram incentivados a roubar. O finado irmão João admirava o chefe da quadrilha dos bandidos.
Emocionado Miquéias contou que a sua avó Maria desde pequeno o levava na igreja, gostava de participar das celebrações religiosas. O seu herói  era Jesus Cristo, pois deixou belos ensinamentos e boas ações, acolheu doentes, prostitutas, pecadores, os excluídos  da sociedade. Recitou o sermão da montanha: Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensina-los: “Felizes os pobres em espirito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem  insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo  de  calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contente, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que  vieram antes de vocês”’ (Mt5, 1-12).
Veronica parabenizou os alunos pelas belas mensagens. Achava melhor começarem a rezar as orações do Pai-Nosso e Ave-Maria. Passadas umas três horas ouviram o barulho de um veiculo e dois homens conversando sobre o desmoronamento da casa velha. Aflitos gritaram pedindo ajuda. O gerente da fazenda chamou os bombeiros, com a ajuda de alguns funcionários retiraram os entulhos. Após trinta minutos conseguiram tirar as madeiras velhas que cobriam a entrada do porão. Ajudaram os jovens e a professora saírem deste lugar. Eles foram levados ao hospital, apesar do susto estavam bem. O dono da fazenda os convidou para almoçarem neste lugar no próximo final de semana acompanhados de seus familiares. No domingo às dez horas dirigiram-se a igreja para participarem da celebração religiosa. Veronica, Ester, Rute, Josias e Miquéias agradeceram a Santíssima Trindade por tê-los socorridos naquele temporal. Emocionados recitaram O cântico de Maria:
“Minha alma proclama a grandeza do Senhor,
Meu espirito se alegra em Deus, meu salvador.
Porque olhou para a humilhação de sua serva.
Doravante todas as gerações me felicitarão,
Porque o Todo-Poderoso realizou grandes obras em meu favor:
Seu nome é santo, e sua misericórdia chega aos que o temem, de geração em geração.
Ele realiza proezas com seu braço:
Dispersa os soberbos de coração, derruba do  trono os poderosos e eleva os humildes;
Aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias.
Socorre Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia,
- Conforme prometera aos nossos pais - em favor de Abraão e de sua descendência para sempre” (Lc 1, 46-56). 
 
Bibliografia:
Pa. Reginaldo Manzotti apresenta Nossa Senhora  Aparecida / Pa. Reginaldo Manzotti e Carolina Chagas – 1 ed. – Rio de Janeiro: Petra, 2015.
Site - padrepauloricardo.org 

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