Eram vinte e três horas e trinta minutos
quando o ônibus chegou à cidade de São Carlos. Thaís acordou seu filho
Alexandre para ambos descerem do veiculo. Na rodoviária o menino que estava
tremendo de frio perguntou:
- Mãe não era para nós termos vindo
amanhã da casa da avó Sebastiana?
- Filho quis vim um dia adiantado para
fazermos surpresa para o seu pai, respondeu Thaís.
- Antes de irmos viajar a senhora e o
papai discutiram, falou Alexandre.
- Nos casamentos existem momentos alegres
e tristes, comprei um presente para o Miguel, tenho certeza que nós dois
faremos as pazes, falou Thaís.
- Será que o papai esta em casa neste
momento? Perguntou Alexandre.
- É claro que sim, ele deve estar na sala
assistindo televisão, respondeu Thaís.
Thaís e o seu filho pegaram um taxi, a
mulher pediu para o motorista levá-la a sua casa. Ela estava ansiosa, pois
desejava conversar com seu marido, falaria para ele que o amava e tentaria
resolver os problemas que causavam suas discussões. Quando o taxi chegou perto
da casa Thaís achou estranho ver vários carros estacionados em frente da sua
residência. Depois que pagou o motorista pegou sua bagagem e junto com o menino
desceu do carro. Alexandre curioso perguntou:
- Mãe a senhora sabia que o pai ia dar
uma festa aqui em casa hoje?
Nervosa Thaís respondeu:
- Não, por favor, Alexandre fique aqui
junto com a bagagem, eu vou ver quem são as pessoas que estão na minha casa.
Thaís escondida aproximou-se da janela,
de longe viu que um dos convidados era Pedro, companheiro de serviço do Miguel,
os dois trabalhavam na mesma construtora. Ela nunca simpatizou com aquele
homem, dentro da sala tinha cinco homens e três mulheres. Então uma delas pegou
a garrafa de cerveja, encheu um copo e entregou para o Miguel. Enquanto
conversavam animadamente e riam aquela mulher abraçou o Miguel, os dois se
beijaram. Thaís ficou furiosa, ela foi até a porta, a abriu, os dois ainda
estavam se beijando quando falou:
- Miguel é só eu sair de casa para você
me trair com outra mulher.
Ele ficou desesperado quando reconheceu a
voz da sua esposa, afastou-se da outra mulher e falou:
- Querida isto é um mal entendido, apenas
estou brincando com a Dalva.
Enciumada e brava Thaís falou:
- Cretino, eu não sabia que um homem
casado pode beijar as outras mulheres na boca.
- Meu amor este beijo foi apenas uma
brincadeira, a única mulher da minha vida é você Thaís, falou Miguel e se
aproximou dela.
- Mentiroso, afaste-se de mim, nunca mais
quero vê-lo na minha frente, falou Thaís e saiu daquela casa. Magoada aproximou-se do menino e falou:
- Alexandre vamos embora daqui porque o
seu pai esta me traindo com outra mulher.
Dentro da casa Miguel falou:
- Preciso conversar com Thaís, este beijo
foi apenas uma brincadeira, eu não tenho coragem de trair a minha mulher.
- Acalme-se meu amigo, Thaís esta
nervosa, amanhã quando ela estiver mais calma vocês conversam, falou Pedro.
Thaís e o seu filho caminharam a pé até a
esquina, ela pegou o seu telefone celular e ligou
para o táxi. Passados dois minutos chegou um taxista e os levou a casa de sua
prima Helena. Esta mulher morava no jardim Medeiros, a meia noite e trinta
minutos o táxi deixou mãe e filho nesta residência. Brava e envergonhada Thaís
apertou a campainha, Helena a reconheceu imediatamente. Quando ela contou a
desagradável surpresa que teve com o seu marido, sua prima a convidou para
ficar hospedada em sua casa. Alexandre com seus dez anos não compreendeu o que
estava acontecendo, como estava cansado deitou-se na cama e dormiu. No domingo
acordou às dez horas e quinze minutos, ele foi até a cozinha. Sua mãe o
convidou para tomar café da manhã, enquanto estava comendo um pedaço de pão
perguntou:
- Mãe por que viemos até a casa da tia
Helena e não ficamos na nossa residência?
Algumas lágrimas saíram dos olhos da
Thaís enquanto respondia:
- Infelizmente descobri que o seu pai não
me ama mais, ele prefere ficar ao lado de outras mulheres.
- Mas mãe a senhora tinha prometido que
ia fazer as pazes com o papai e não ia mais brigar com ele, falou Alexandre.
- Meu filho você é apenas uma criança,
ainda não consegue compreender os problemas dos adultos, falou Thaís.
- Os adultos são muito complicados, falou
Alexandre.
Neste momento André o filho da Helena
também acordou, ele foi até a cozinha. Tomou o café da manhã e convidou o seu
primo para jogar futebol. Passada umas duas horas Helena os chamou para
almoçarem. Depois que almoçaram ligaram a televisão, estava começando o
programa do palhaço Genésio, as crianças de todas as idades gostavam deste
humorista. Na última etapa deste programa o palhaço Genésio comentava sobre
seres humanos que foram exemplos para a sociedade. Neste dia ele comentou sobre
São Nicolau que viveu na metade do século III, bispo de Mira. Nicolau foi preso
porque recusou negar sua fé em Jesus Cristo no império de Diaclesiano. Quando
Constantino subiu ao poder ele voltou a enfrentar oposição, mas desta vez na
própria igreja.
São Nicolau prestou auxilio a
crianças e aos necessitados. Existe lendas populares que associadas ao Natal
transformaram este santo no Papai Noel, um velhinho de barba, levando nas
costas um saco de presente. São Nicolau foi acolhedor de pobres, principalmente
das crianças carentes, lutou pela educação e moral das crianças e de suas mães.
Às
catorze horas Miguel chegou nesta residência falando que precisava ter uma
conversa séria com a Thaís. Ela pediu para sua prima se os dois poderiam
conversar em particular no quarto de hospedes daquela casa. Esta mulher
concordou, sem que ninguém percebesse Alexandre correu, entrou neste local e escondeu-se
embaixo da cama. Thaís e Miguel entraram no quarto, depois que Miguel fechou a
porta, ansioso e confuso falou:
- Meu amor senti muita saudade de você.
- Por favor, pare de contar mentira,
nenhuma palavra pode explicar o beijo que você deu naquela mulher, falou Thaís.
- Querida eu e a Dalva apenas estávamos
brincando, acho que ontem tomei muita bebida alcoólica, falou Miguel.
- Quando nos casamos Miguel você prometeu
que seria fiel nos momentos de dores e alegrias, só porque tivemos uma
discussão já me traiu com outra mulher, falou Thaís enquanto saiam lágrimas dos
seus olhos.
Amargurado Miguel falou:
- Como todo ser humano cometo erros, vim
até aqui para pedir perdão Thaís.
- Ultimamente nós dois brigamos bastante,
acho que o nosso amor acabou, falou Thaís.
- Thaís a sua presença é que dá sentido a
minha vida, sempre te amarei eternamente, falou Miguel.
- Miguel as suas palavras bonitas não
conseguem explicar a sua traição, falou Thaís.
- Farei tudo o que me pedir para você
acreditar como a amo, falou Miguel.
- As nossas discussões esta me deixando
estressada, como não o amo mais acho melhor nos separarmos, falou Thaís.
Aflito e nervosos Miguel falou:
- Todos os casais às vezes brigam, fomos
felizes nos onze anos do nosso casamento, o seu amor não pode ter desaparecido
da noite para o dia.
- Desde o nosso namoro sempre o avisei
que me afastaria de você Miguel se o visse me traindo com outra mulher, falou
Thaís.
- Droga! Apenas dei um beijo na Dalva, eu
estava bêbado e agora estou pedindo o seu perdão, falou Miguel bravo.
- Nós dois estamos nervosos, por favor,
vá embora da casa da minha prima Helena, falou Thaís.
- Por enquanto a deixarei em paz Thaís,
mas ainda mostrarei que apenas juntos é que somos felizes, falou Miguel.
Ele saiu daquele quarto, entrou no seu
automóvel e foi embora. Thaís desesperada sentou-se na cama e começou a chorar.
Alexandre quando ouviu conversa de seus pais falando em separação também
chorou. Passados uns dois minutos o menino saiu debaixo da cama ao ver sua mãe
falou:
-
Mãe diga que é mentira que a senhora e o papai vão separar-se.
Confusa Thaís abraçou o filho e
perguntou:
- Alexandre você ouviu a conversa que
tive com o seu pai?
- Sempre fui um menino curioso, eu quis
saber porque a senhora e o papai brigaram ontem, respondeu Alexandre.
- O seu pai ficou decepcionado comigo por
causa da nossa última briga e me traiu com outra mulher, falou Thaís.
- Mas ele se arrependeu e veio pedir
perdão, falou Alexandre.
- Querido como você mesmo falou os
adultos são complicados, além disso estou magoada porque vi o seu pai beijando
outra mulher na boca, falou Thaís chorando.
- Acalme-se mãe, você é uma pessoa legal
e a amo bastante, falou Alexandre.
- Filho com todos esses acontecimentos
estou precisando ficar sozinha, falou Thaís.
O menino despediu-se da sua mãe e saiu do
quarto. Na sala Helena falou que o seu filho estava procurando ele, Alexandre
perguntou onde André estava, ela respondeu que foi até a casa do vizinho
brincar com o amigo dele. Então respondeu que iria até este local brincar junto
com eles. No portão daquela residência lembrou-se da conversa de seus pais.
Alexandre amava bastante o seu pai, tinha amizade e brincava com ele todos os
dias. Sua vida ficaria triste e vazia se os seus pais se separarem. Desanimado
achou melhor ficar sozinho por algum tempo, foi até uma praça que ficava a três
quarteirões desta casa. Chegando neste lugar sentou-se num banco e chorou.
Passados alguns minutos aproximou-se dele um menino sujo vestindo roupas
velhas, ele riu e falou:
- Garoto você esta chorando por que levou
o fora da sua namorada?
Alexandre ficou bravo, passou suas mãos no
rosto e respondeu:
- Para começar não preciso dar satisfação
da minha vida a uma pessoa estranha.
- Nossa como você ficou valente garotão!
Falou o outro menino.
Alexandre levantou-se do banco, de pé era
mais alto que o outro menino e falou:
- Moleque vai procurar a sua turma, eu
sou seis centímetros mais alto do que você e se me provocar posso te dar uma
sura.
O outro menino riu, balançando suas mãos
falou:
- Eu estou tremendo de medo.
- Pelo jeito você gosta é de brigar, irei
ignorá-lo e voltarei para minha casa, falou Alexandre.
Ele andou uns cinco metros, então o outro
menino jogou uma tampa de refrigerante na sua cabeça. A pancada doeu, Alexandre
furioso virou para trás e falou:
- Moleque darei uma sura em você para
nunca mais se esquecer de mim.
Alexandre saiu correndo atrás do outro
menino, o garoto mal vestido era pequeno e magro, corria mais rápido. Quando
Alexandre estava quase alcançando o outro levou um tropeção e caiu no chão.
Enquanto estava caindo seu relógio de pulso abriu sozinho, saiu do seu braço
ficando a três metros na frente dele. Devido ao tombo Alexandre gritou, o outro
menino olhou para trás, ele começou a rir, pegou o relógio de pulso e falou:
- Este relógio de pulso é bonito.
O tornozelo esquerdo do Alexandre estava
doendo, gemendo ele falou:
- Seu ladrão, devolva o meu relógio!
Este garoto pegou e relógio de pulso e
saiu correndo dali. Com dificuldade Alexandre ficou em pé e voltou para a casa
de Helena. Com o seu pé doendo sentou-se no sofá e assistiu televisão. Às dezenove
horas e trinta minutos Thaís saiu do quarto de hospede, sem graça pediu para
sua prima se podia ficar hospedada por mais alguns dias na casa dela. Ela
sorriu e falou que sim, pois além de serem parentes eram grandes amigas. No
outro dia cedo Thaís foi trabalhar no escritório, desde o final do ano passado
formou-se no curso de direito. Todos comentavam que ela era uma mulher bonita e
advogada competente. Na segunda-feira à noite Miguel telefonou, falou que no
outro dia às dezesseis horas gostaria de passear com o seu filho Alexandre. O
menino ficou contente, sorrindo disse que estava com saudade do seu pai. Thaís
conversou pouco com o seu marido e falou que amanhã no horário combinado o
menino estaria esperando por ele.
Na terça-feira à tarde quando Alexandre
viu seu pai o abraçou emocionado. Ele entrou no automóvel, foram para o centro
da cidade. Miguel falou que seu filho estava precisando comprar roupas novas.
Eles entraram em uma loja bonita, impressionado o menino provou várias calças
jeans, algumas camisetas, etc. Alexandre comprou duas calças jeans, três
camisetas, uma camisa e três pares de meia. Ele e o seu pai saíram da loja
carregando várias sacolas. Depois Miguel o convidou para irem até uma
lanchonete comerem lanche. O menino pediu um cachorro quente e o seu pai um
pastel e dois refrigerantes. Enquanto estavam comendo entrou um menino mal
vestido dentro local, aproximou-se deles
e falou:
- Eu estou com fome, por favor, senhor
compre um salgado para mim.
Alexandre reconheceu esta voz, olhou para
o moleque e falou:
- Ladrão, além de roubar o meu relógio
esta pedindo esmolas ao meu pai.
O outro menino espantou-se e falou:
- Garoto não o conheço, mas como estou com
fome imploro a misericórdia de vocês.
Alexandre ficou furioso, levantou-se da
cadeira e falou:
- Sem vergonha, devolva o meu relógio ou
será que vou ter que dar uma sura em você?
Miguel ficou nervoso e falou:
- Acalme-se meu filho, por que você ficou
tão bravo?
Alexandre apontou sua mão esquerda para o
outro menino e falou:
- Este moleque no domingo a tarde roubou
o meu relógio de pulso.
- Meu filho se for para agradá-lo
comprarei um relógio novo para você, falou Miguel.
O outro menino falou:
- O senhor é um homem generoso, compra
vários presentes ao seu filho, mas deixa uma pobre criança passando fome.
Alexandre tentou bater no outro menino,
seu pai o segurou pelos braços enquanto falava:
- Canalha! Depois que eu der uma sura em
você mostrarei como é feio roubar as coisas dos outros.
Miguel fez o seu filho sentar-se
novamente na cadeira, com sua mão direita tirou algumas notas da sua carteira,
as deu ao outro menino falando:
- Por favor, pegue este dinheiro e vá
embora desta lanchonete.
O menino pegou o dinheiro e falou:
- Obrigado senhor! É uma pena que seu
filho é mal educado.
Alexandre furioso levantou-se da cadeira,
tentou se aproximar do outro menino, seu pai precisou segura-lo e falou:
- Acalme-se garoto, estou chateado por
causa do seu escândalo.
Envergonhado o menino falou:
- Desculpe-me pai, estou nervoso porque
aquele moleque roubou o meu relógio de pulso.
- Acalme-se
Alexandre, pois se continuar nervoso não comprarei outro relógio de pulso,
falou Miguel.
- Pai o senhor é um cara legal, perdoe-me
pela vergonha que o fiz passar hoje, falou Alexandre.
Miguel sorriu, pai e filho abraçaram-se. Enquanto
isto acontecia o outro menino já estava na rua, mostrou a língua para o
Alexandre e saiu correndo. Alexandre ficou bravo, para não discutir com seu pai
tentou acalmar-se e ficou quieto. Os dois foram a outra loja, Miguel comprou um
relógio bonito para o seu filho. Como já estava escurecendo o pai do menino o
convidou para jantar em um restaurante. Para agradá-lo o pai pediu para ele
escolher os pratos que comeriam neste jantar. As 21:00 horas retornaram para o
jardim Medeiros. Miguel quis conversar com a Thaís, ela mandou sua prima avisá-lo
que estava com dor de cabeça. Sem graça falou que no próximo sábado a tarde
gostaria de levar o seu filho até o Pesque Pague, pois iria fazer uma pescaria
junto com alguns amigos. A semana passou vagarosamente, Alexandre contente
pensava que iria divertir-se no sábado, pois estaria ao lado de seu pai. Neste
dia depois do almoço Miguel e seu amigo Pedro foram até a casa de Helena, o
menino foi junto com eles para a pescaria.
Neste lugar havia muitas pessoas, Miguel
e Pedro encontraram vários amigos, pegaram suas varas e foram pescar. Alexandre
divertia-se bastante, principalmente quando pescou o primeiro peixe. Seu pai
falava que ele estava com sorte porque o peixe pesou mais de dois quilos. Os
homens também divertiram-se, paqueravam as mulheres, tomavam cerveja e uísque.
Passaram-se várias horas, o dia já estava escurecendo, Miguel, Alexandre e
Pedro estavam contentes porque juntos haviam pescado treze quilos de peixe. Na
hora de ir embora Pedro estava com pressa, a sua noiva chegaria de viagem às
vinte horas. No momento que foi entrar na pista rodoviária não respeitou a
preferencial, apressadamente colocou o seu carro nela sem olhar para os lados.
Inesperadamente veio um caminhão, deu uma forte pancada no automóvel jogando-o
fora da pista dando uma capotada, suas rodas ficaram viradas para cima.
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