sábado, 20 de agosto de 2016

Capitulo 2 - Mudanças Ortograficas da Língua Portuguesa no Brasil

Todos parabenizaram Vilma por este artigo. Carolina era professora de português, desanimada observou que nas suas aulas  existem alunos do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio com dificuldades de fazerem leituras. Tentando despertar o interesse dos alunos nas aulas da língua portuguesa pesquisou e escreveu um artigo sobre as mudanças ortográficas da língua portuguesa no Brasil. Quando o leu em suas aulas conseguiu despertar o interesse de muitos alunos na nossa língua materna. Os outros professores ficaram interessados no texto, sorrindo Carolina começou a lêlo:
 
MUDANÇAS ORTOGRÁFICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL
 
INTRODUÇÃO
No Ocidente as línguas mais faladas são o inglês, espanhol e o português. A língua portuguesa foi introduzida no Brasil com a colonização dos portugueses. Desde 1.500 aconteceram várias mudanças neste idioma por causa do dialogo e contato dos portugueses com os índios e escravos vindos da África. No final do século 19 e inicio do século 20 vieram imigrantes italianos, alemães, japoneses e holandeses no Brasil, esses diferentes idiomas influenciaram a língua portuguesa.
Este trabalho mostrará as inúmeras transformações da língua portuguesa no nosso país. Essas mudanças aconteceram na língua falada e escrita.

1. A Língua Portuguesa em Portugal
Até o Renascimento (século 16) a escrita era pautada pelos sons das palavras. Na fase fonética uma palavra era escrita de acordo com o som, encontramos a mesma palavra escrita de modos diferentes: cinco e cinquo, muyto e muito.
Do século 16 até os primeiros anos do século 20 predominava as influências do latim e da cultura grega. Sua origem etimológica era respeita na grafia. Os lusitanos utilizavam as consoantes duplas e o y herdados do latim, exemplos: pharmacia, collega, lyrio, philosophia, theatro, sepulchro, cysne.
 
2. A Língua Portuguesa No Brasil
A língua portuguesa foi introduzida no Brasil com a chegada de Pedro Álvares Cabral e depois com a colonização dos portugueses. Mas antes deste acontecimento já viviam no nosso país os indígenas e os falantes de suas inúmeras línguas. Esta colonização começou a partir de 1532, a língua oficial dos portugueses era a língua portuguesa. Como os povos desta nova terra falavam outras línguas, as línguas indígenas tornaram-se a língua oficial do Brasil. Em 1595 o padre José de Anchieta registrou em suas obras que a língua indígena tupi influenciava o idioma dos portugueses. As línguas dos negros africanos trazidos como escravos também influenciou a língua portuguesa.Durante dois séculos falou-se no Brasil o bilingüismo, o tupi era a língua franca e o português a língua oficial do Estado. No final do século 17 iniciou-se a exploração do interior pelos bandeirantes. Com a descoberta das minas de ouro e diamantes aumentou o número de portugueses no Brasil. Com o crescente número de falantes da língua portuguesa foi diminuindo o bilingüismo no nosso país. No dia 17 de agosto de 1758, através de um decreto o Marquês de Pombal transformou a língua portuguesa em idioma oficial do Brasil, proibiu o uso da língua geral.
No final do século 18 o brasileiro já havia reduzido da palavra você da expressão voismice. Quando o Marquês de Pombal decretou a obrigação do português no Brasil, os brasileiros já haviam incorporado no seu vocabulário diversas palavras de origem indígena e africana. Vários nomes e animais originaram-se do tupi, exemplos: abacaxi, caatinga, jabuti, cabra, mandioca, maracujá, piranha, sucuri, tatu. Os africanos emprestaram várias palavras ao português brasileiro: caçula, cafuné, moleque, senzala, samba.
Em 1808 por causa da guerra com a França a família real chegou ao Brasil, acompanhando vossa majestade chegaram 15 mil portugueses no Rio de Janeiro. Como o Rio de Janeiro tornou-se a capital do Império houve novas relações sociais no território brasileiro, incluindo a língua portuguesa. Dom João VI fundou a Biblioteca Nacional e a imprensa no Brasil.
Quando o Brasil ficou independente diminuiu o tráfico de escravos, uma parte da população indígena se miscigenou. Começou a chegar novos imigrantes europeus vindos da Alemanha. No século 19 a literatura e a constituição demonstravam o conhecimento da língua portuguesa no Brasil. José de Alencar exaltava a figura do índio e a linguagem própria do brasileiro.
Nos anos de 1880 a 1930 entraram no Brasil muitos imigrantes, falantes de diversos idiomas, como por exemplo: alemães, italianos, japoneses, holandeses. A Língua Portuguesa, oficial e nacional, foi influenciada por um lado pelas línguas indígenas e africanas e do outro com as línguas de imigração.
Analisamos várias obras do século 19, no livro Estudos De Literatura Brazileira – Primeira Série, na página 201 encontramos o belo soneto de João Ribeiro, intitulado:             
Paulo e Virginia:
 
            Fomos um dia alegres, estourados,
            Ao clarão matinal do sol nascente
            Colher flores do vergel ridente
            E as primeiras amoras dos cercados.
 
            Venturosos, risonhos namorados,
            Cada qual mais feliz e mais contente,
            Esquecemos a terra inteiramente:
            Doidos de amor, de gozo embriagados.
 
            Seus cabellos – emquanto Ella corria,
            Voavam, loiros como a luz, dispersos!
            Eu a chamava e ella me fugia.
 
            Por fim voltamos em prazer immersos!
            E das venturas todos desse dia...
            Resta a saudade que inspirou meus versos.
 
3. Mudanças Ortográficas da Língua Portuguesa no Século 20
Em 1904 Gonçalves Viana, filólogo português apresentou um volume intitulado Ortografia Nacional, propondo a simplificação valorizando os aspectos da fala e se distanciando do latim.
As principais alterações de Gonçalves Dias foram:
Eliminação de todos os símbolos da etimologia grega: th, ph, ch (=k), rh e y;
Redução das consoantes nulas, quando não interferem na pronúncia da vogal anterior;
Regularização da acentuação gráfica.Essas mudanças foram oficializadas em 1911, em Portugal. O Brasil se ajustou aos padrões em 1915. Como exemplo da ortografia utilizada no ano de 1905 retiramos um poema de Olavo Bilac do livro Estudos De Literatura Brazileira – Quinta Série, página 11:
                        VIRGENS MORTAS
 
Quando uma virgem morre, uma estrella apparece,
Nova, no velho engaste azul do firmamento,
E a alma da que morreu, de momento em momento,
Na luz da que nasceu palpita e resplandece.
 
Ó vós que, no silencio e no recolhimento
Do campo, conversaes a sós quando anoitece,
Cuidado: o que dizeis, como um rumor de prece,
Vae sussurrar no céo. Levado pelo vento...
 
Namorados, que andaes com a boca transbordando
De beijos, pertunbando o campo socegado
E o casto coração das flores inflammando,
 
- Peidade! Ellas vêm tudo entre as moites escuras...
Peidade! Esse impudor offende o olhar gelado
Das que viveram sós, das que morreram puras

No Brasil as influências de Gonçalves Viana chegaram no ano de 1907. Neste mesmo ano Medeiros de Albuquerque elaborou um projeto com doze regras de reformulação ortográfica modernizando a ortografia brasileira. No ano de 1915 a Academia Brasileira de Letras (ABL) adaptou a ortografia aos padrões da reforma portuguesa acontecida em 1911.Como exemplo retiramos do livro A Suave Ascenção publicado em 1917, as duas primeiras estrofes de um poema homenageando Mater Dulcissima, página 21:
Quedo-me longas horas deslumbrado,
Vendo a lua surgir redonda e lenta,
Derramando-se em leite sobre o prado
Leite que a terra e as almas alimenta,
 
Pois nutri, doce lua, é teu bom fado;
E interrogo porque és tão macilenta
E o teu divino leite desmaiado,
Branco seio que os mundos amamenta!
 
O acadêmico Osório Duque Estrada, autor da letra do hino nacional, no ano de 1919, influenciou os brasileiros a cancelarem as reformas ortográficas. Retiramos da obra Um Soneto de Bilac um poema escrito pelo grande poeta Olavo Bilac, página 15:                  
            A UM POETA
 
Longe do esteril turbilhão da rua
Benedctino, escreve! No aconchego.
Do claustro, no silencio e no socego,
Trabalha, e teima, e lima, e soffre, e súa!
 
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica, mas sóbria, como um templo grego.
 
Não se mostre na fabrica o supplicio
Do mestre. E, natural, o effeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício!
 
Porque a Belleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
 
Em 1931 é assinado o acordo ortográfico Brasil e Portugal voltando à simplificação do projeto português de 1911. Como exemplo retiramos da obra Estudos Brasileiros 2º série, de Guilherme de Almeida, uma poesia, página, página 54:
Estes lírios frescos, cheios de madrugada,
Esta moça toda molhada
E este favo de mel sobre estas folhas humidas,
Ainda todo sonoro das azas laboriosas,
Estas coisas simples foram as únicas
Que achei para trazer-te. Goza-as
Todas, bem longamente
E com volúpia. Sente
O perfume pastoral destes lírios alvos;
Os múltiplos contactos
Desta folhagem nova;
prova
a acidez fina desta fruta,
olha a cor de sol deste mel, escuta
como a cera oca do favo ainda tem
uma musica de azas para os teus ouvidos!
 
Porém no ano de 1934 Getúlio Vargas anulou o acordo de 1931, pois a Constituição Brasileira de 1934 mandava voltar à ortografia de 1891. Passados quatro anos o Brasil voltou a usar a ortografia do acordo de 1931. Desejando uniformizar a ortografia brasileira e portuguesa os dois países assinaram um acordo. Em 1943 o Brasil fez novas mudanças, exemplo o s em casa, antes com z. Como exemplo no livro Aguas Passadas publicado em 1944 esta escrito um poema de Antonio Salles, página 77:            
                     VENDAVAL
 
Pensas ouvir o mar? Engano: é a mata
Revolta, sacudida pelo vento,
Que ora as frondes lhe eleva, ora as achata,
Como às ondas do líquido elemento.
 
A casa lembra mísera fragata
Perdida, em tôrno à qual, cavo a agoirento,
Qual voz de procelária, se desata
Da mãe-da-lua o lúgubre lamento.
 
É que este vento vem do mar, do largo,
Trevoso oceano, que também agora
Se agita à instigação dos gênios máus.
 
E êle traz o clamor do pranto amargo
Que a noite augusta e comovida chora
Sôbre os destroços fúnebres das naus.

Como os dois países desejavam a unidade do mesmo idioma nomearam uma comissão para prepararem a nova ortografia da Língua Portuguesa. Em 1945 na convenção luso-brasileira apenas Portugal fez as mudanças, pois o Brasil não aceitou as consoantes mudas (óptimo e direcção) e o fim do trema.No governo Médici no ano de 1971 houve uma nova convenção luso-brasileira porque os governos estavam insatisfeitos com as grafias diferentes nos dois países. Um novo acordo foi assinado. Portugal continuou usando o decreto de 1945, no Brasil caiu alguns acentos graves (sòmente, ùltimamente) e circunflexos diferenciais (almôço, enderêço), tremas nas palavras saüdade e vaïdade. O livro Werther foi traduzido e publicado antes da assinatura do acordo ortográfico luso-brasileiro, retiramos alguns exemplos: ...“Ùltimamente, êle deu parte à Côrte, a respeito de minha conduta...” (pág. 87) ...”Agora, não faz mal a ninguém; sòmente não se ocupa de outra coisa senão de reis e imperadores...” (pág. 116). Nesta obra há várias palavras com acentos graves: fàcilmente, diàrimente, rìgidamente..., e circunflexos diferenciais: flôres, professôres, jôgo. Em maio de 1986, no Rio de Janeiro houve o encontro dos sete países de língua portuguesa tentando uniformizar a ortografia deste idioma. O encontro fracassou porque o projeto apresentava mudanças radicais.
4. Mudanças Ortográficas da Língua Portuguesa no Século 21
Em 2008 a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste assinaram um novo acordo ortográfico. Pois incorpora características da ortografia utilizada em Portugal e no Brasil.
Desaparece o trema nas palavras escritas no Brasil, pois em Portugal não eram mais utilizadas. As palavras lingüiça e tranqüilo serão grafadas sem o sinal gráfico sobre a letra u. Haverá exceções nos nomes estrangeiros e seus derivados.
As paroxítonas com ditongos abertos ei e oi não levarão o acento agudo, como os seguintes exemplos: idéia, heróico e assembléia. O mesmo acontece com os ditongos abertos i e u como feiúra. Não existirá o acento circunflexos em paroxítonas com duplos e ou o, nas formas verbais, exemplos: vôo, dêem e vêem.
O alfabeto passou de 23 para 26 letras, foi incluído k, y e w. Mas o uso dessas letras continua restrita a palavras de origem estrangeira e seus derivados.
A utilização do hífen ganhou novas regras. O sinal foi abolido nas palavras compostas onde a primeira termina em vogal e a segunda também começa com outra vogal, exemplos: aero+espacial = aeroespacial, extra+escolar = extraescolar.
O hífen será utilizado quando o primeiro elemento finalizar igual à do segundo elemento: micro-ondas, anti-inflamatório.
Quando a primeira palavra terminar em vogal e segunda começar com r ou s, essas letras duplicadas, como o seguinte exemplo: anti+semita = antissemita.
Haverá exceção quando a primeira palavra terminar com r e a segunda começar com a mesma letra. A palavra será grafada com hífen, como os exemplos: hiper-requintado, inter-racial.
 Conclusão:
  acordo ortográfico pretende unificar a língua portuguesa dos países que utilizam a língua portuguesa, mas não afetou a língua falada.
A comunidade dos países da língua portuguesa constitui-se em um grupo linguístico expressivo, prestigia o idioma nos organismos internacionais, pretende potencializar e unificar em nível mundial o mercado editorial da língua portuguesa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário