Quando eu tinha oito anos a minha
família morava no sítio. Enquanto as outras crianças iam a escola aprender a
ler e escrever eu pegava a enxada para ir à roça trabalhar.
Nos meus doze anos sofri bastante
porque a minha mãe faleceu. Como eu era a filha mais velha ajudei o meu pai,
cuidei dos meus cinco irmãos.
Com o passar dos anos os meus irmãos
cresceram e casaram-se, o meu pai partiu deste mundo.
Agora que estou com 45 anos continuo
solteira, moro na cidade Cristal Dourado, trabalho como empregada domestica.
Graças ao Mova: Movimento de Alfabetização de Adultos estou aprendendo a ler e
escrever.
Há alguns dias mostrei para a minha
patroa o meu nome que consegui escrever. Enquanto limpava a sala ouvi uma amiga
da filha do meu patrão chamando-me de burra porque sou analfabeta. Apesar da
humilhação, engoli o meu sofrimento e fiquei quieta.
Ontem ouvi no rádio que aconteceu um
acidente de automóvel com aquela menina que me humilhou. Ela estava em estado
grave, pediram doadores de sangue com urgência.
As pessoas conversam sobre o bem,
mal, amor, ódio, mas dificilmente falam do perdão.
Como eu e aquela garota temos o mesmo
tipo sanguíneo dirigi-me ao hospital e doei sangue.
Naquele momento me senti a mulher
mais feliz deste mundo porque através de uma boa ação ajudei a salvar uma vida
humana.
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