O professor Rodolfo estava contente,
pois acabava de receber a carta, comunicando-o que acabava de aposentar-se. Ele
lecionava numa faculdade publica de uma importante cidade do estado de São
Paulo. Com 59 anos não precisaria mais trabalhar, finalmente poderia viajar e
dormir, sem preocupar-se com o serviço. Como estava no inicio de dezembro, iria
descansar. As 22:30 minutos terminou a última aula, despediu-se dos alunos,
voltou a sua casa.
Enquanto tomava banho lembrou-se que
a ex-esposa o traiu com um dos seus alunos. Seu filho mais velho estudava em
São Paulo. Ele estava querendo ganhar de presente um automóvel zero quilometro.
A filha namorava um dentista há dez anos. Mas não se casará com o noivo antes
de terminar a faculdade de direito. Ela terminará o curso superior dentro de três
anos. Até lá o papai precisará pagar as mensalidades de sua universidade.
Frustrado sentou-se na cama. Pois
nada significava aos seus filhos, pois valorizavam apenas o dinheiro.
Desanimado achou melhor deitar-se na cama e dormir. Nas festas do final do ano
de 2007 viajou ao Rio de Janeiro. Retornando a sua casa percebeu que sentia-se
vazio por dentro. Neste ano novo precisaria fazer uma pesquisa onde fosse
valorizada a sua pessoa.
Animado ligou o computador para
pesquisar as noticias do mundo. Ele ficou surpreso quando viu que desde 2004,
morreram 13 cortadores de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. O ganho deles era
por produtividade, não paravam para comer, trabalhavam o dia inteiro, num ritmo
acelerado. Pois eram remunerados de acordo com a quantidade de toneladas de
cana-de-açúcar cortada durante o dia. A maioria dos cortadores de
cana-de-açúcar se deslocavam do Nordeste como migrantes..
Curioso começou a refletir porque
tantas pessoas deixavam a sua terra natal para trabalharem num local distante.
Ele telefonou a um amigo funcionário da usina pedindo os nomes das cidades dos
migrantes. No outro dia o amigo lhe informou que a maioria dos empregados da
empresa vinham da cidade Gororoba, do estado Ceará.
A safra de cana-de-açúcar começa em
abril. Desejando fazer uma pesquisa o professor Rodolfo decidiu conhecer a
cidade Gororoba. Assim descobriria porque tantos trabalhadores deixam suas
casas. Trabalhavam um determinado tempo no Estado de São Paulo como cortadores
de cana-de-açúcar.
No dia 10 de janeiro entrou na sua
caminhonete, iniciou a viagem com destino ao Ceará. Passadas 30 horas cansado
estacionou seu veiculo em um posto de gasolina. Então o informaram que a cidade
Gororoba ficava a uns quinze quilômetros deste local. Depois de almoçar
prosseguiu a viagem. Enquanto dirigia sua caminhonete naquela estrada dura e
sem asfalto viu uma mulher deitada no chão. Preocupado parou o veiculo para
socorrê-la. Quando aproximou-se dela, alguém com um pedaço de pau deu uma
pancada na sua cabeça.
Rodolfo caiu desmaiado no chão. A
mulher levantou-se, junto com seu parceiro roubaram à caminhonete. Neste
momento apareceu andando na caatinga uma mulher com três crianças. Eles o
socorreram, quando recuperou os sentidos, contaram que foi assaltado pela dupla
Urubu e Maritaca. O professor apresentou-se, as crianças riram porque a
linguagem falada era diferente da utilizada por eles A mulher falou que
chamava-se Zumira, os seus filhos chamavam-se Bonfim, Estelina e Severina. O professor
precisava avisar os policiais que foi assaltado.
Zumira uma mulher de uns 40 anos, o
acompanhou até a cidade. Essas pessoas caminharam quase duas horas pela
caatinga. Chegaram a Gororoba, uma pequena cidade onde morava umas mil pessoas.
Foram à delegacia, Rodolfo deu seu depoimento. O único banco da cidade estava
fechado. Como este homem não tinha dinheiro para hospedar-se na pensão, Zumira
o hospedaria na sua casa. Preocupado perguntou se o marido dela não iria ficar
bravo vendo-o na sua casa. Ela riu, contou que há uns oito anos o pai dos seus
filhos foi cortar cana-de-açúcar no Estado de São Paulo. Ele fugiu com outra
mulher. Eles caminharam uns vinte minutos, chegaram ao casebre desta mulher.
Durante as suas pesquisas Rodolfo
ficou hospedado na residência de Zumira. No Estado Ceará em Fortaleza
desenvolve-se o comércio e no Sertão o gado e o algodão. Na cultura cearense
destaca-se: Trabalhos de tecelagem como a rede. Chapéus, bolsas e peças de
decorações feitos com a palha. A renda da terra são as belíssimas rendas
cearenses, este tipo de artesanato são feitos pelas mulheres rendeiras. O
bordado cearense é conhecido no mundo inteiro, às bordadeiras aprendem o oficio
ainda na infância. A cerâmica cozida, feito do barro cozido, são rústicos, mas
úteis, exuberantes na cores e nas formas. Os vaqueiros cearenses, com seus
chapéus, coletes e botas do tipo artesanato cearense são inconfundíveis. Os
produtos em couro são sandálias, sapatos, tapetes e objetos de decorações.
Rodolfo simpatizou-se por Zumira, os
dois começaram a namorar. Bonfim tinha onze anos, Estelina dez anos e Severina
nove anos. O menino contou que o seu super-herói era o Lampião, maior
cangaceiro do nordeste brasileiro. Ele e seus homens percorreram os sete
estados da região nordestina durante as décadas de 1920 e 30, levando sangue,
morte e medo à população do sertão. Lampião e seu bando enfrentavam combates,
sobressaltos e a agressividade da caatinga.
Nos seus estudos o professor Rodolfo
concluiu que a migração nordestina acontecia principalmente por causa da seca.
Entre eles existia o costume de plantar nas roças apenas o essencial. Suas
casas eram construídas com simplicidade, pois se tivessem de abandoná-las não
teriam prejuízos. Os homens costumam migrar para o corte de cana-de-açúcar
porque pelas atividades exercidas não ganhavam dinheiro para sobreviverem
durante o ano.
Milhares de nordestinos migram
fugindo da miséria e pobreza da vida no sertão. Mas o governo e as elites
poderosas ignoram este local e seus habitantes. Pois não fazem investimentos no
sertão com o objetivo de proporcionar uma vida digna a seus moradores. Zumira e
seus filhos eram analfabetos, eles sobreviviam porque vendiam bordados ao dono
do mercado.
Passaram-se vinte dias, Rodolfo
terminou seus estudos. Então convidou a namorada e seus filhos para irem embora
junto com ele. Zumira recusou o pedido, pois o professor impressionou-se por
ela. Mas em breve, ficaria cansado da sua companhia e a abandonaria. Por isto
achou melhor ficar em sua terra natal. Chateado o professor retornou a sua
casa.
Com o passar dos dias percebeu como
sua família e amigos eram individualistas e materialistas. Agoniado lembrava-se
da bondade e simplicidade de Zumira, Bonfim, Estelina e Severina. Essas
crianças poderiam ter um futuro brilhante se fossem alfabetizados. De repente
teve uma idéia, colocou sua casa a venda.
Depois de oito dias voltou à cidade Gororoba.
Animado visitou a namorada. Ele contou que voltou para ficar. Pretendia fazer
um poço artesiano e construir uma bela casa neste local. Pois futuramente
contrataria uma professora para alfabetizar jovens e adultos. Fundaria uma
pequena empresa, os funcionários fariam trabalhos de tecelagem e bordados.
Zumira gostou desses projetos. As crianças o abraçaram, Rodolfo beijou sua
namorada.
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