sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Estudo Enunciativo de uma Politica de Línguas: Uma Identidade Misturada

Este artigo pesquisou o espaço de enunciação da língua nacional e da língua materna. No gerativismo a língua materna se opõe à língua estrangeira. O falante independente de classe social tem acesso em ordem cronológica à língua materna. A semântica de enunciação não conceitua a língua, tratando-a como elemento externo ao mundo que organiza, mas é por meio dela que o falante tem acesso a língua.
1. Língua Nacional e Espaço De Enunciação
A língua determina a formação do Estado/Nação e do pertencimento do povo a sua nação. É na língua nacional que a identidade do sujeito se constitui, pois é nessa organização política que esta inserido. As duas principais características de um país são sua língua e seu território.
O espaço de enunciação constitui-se pela relação entre línguas e falantes. Na relação um povo/uma língua, povo significa o todo que compõe um Estado. O povo esta dividido em classes sociais, mas segundo a democracia todos são iguais. Pois foi a classe dominante que firmou a língua nacional, a língua falada e escrita, a língua da produção de conhecimento. O espaço de enunciação brasileiro é regulado pela língua nacional – português padrão – porque organiza a distribuição que define este espaço. Os falantes da língua portuguesa brasileira (pessoas nascidas no Brasil ou imigrantes) são determinadas pelas línguas que falam. Eles são sujeitos da língua, como sujeito pertencente ao Estado brasileiro cria, assim, a identidade que o define.
2. Espaço de Enunciação E Línguas Nacionais
A língua nacional organiza a formação do Estado e da identidade nacional, mas compromete identidade nacional nas situações de multilinguismo, onde mais de uma língua nacional convive em um mesmo espaço. No Brasil este problema surgiu no Estado Novo, durante a década de 1930. O governo obrigou os imigrantes a falarem o português e silenciar a sua língua.
A língua nacional representa o país para qual o imigrante se destinou, ele participa de uma nova sociedade nacional, diferente dos nativos do país, usuários da língua nacional como língua materna. O imigrante e seus descendentes formam uma nova sociedade de forma especifica. No processo simbólico-discursivo, o silenciamento das línguas acontece porque uma língua é silenciada pela enunciação de outra língua. Perdeu-se a legitimidade do multilinguismo em espaços nacionais, pois afeta o ideal de unidade que sustenta a nacionalidade e fidelidade do povo e sua pátria.
Atualmente a geografia mundial esta estabilizada, porque a política lingüística não representa a constituição de uma identidade nacional para representar um país como Estado. Com a globalização da economia mundial estabeleceu um corte da unidade língua e Estado. Devido à desconstrução da unidade língua/estado tornou-se possível a convivência de mais de uma língua nacional no mesmo espaço, sem prejudicar a identidade e unidade de um país.
No espaço de enunciação latino-americana usuárias das línguas portuguesa e espanhola estão substituindo a língua do outro e incluindo o inglês como língua - franca. No Brasil, assim como em outros países, o espaço de enunciação do português é dividido pela língua inglesa. O falante habitante este espaço utiliza essas duas línguas, de acordo com seus conhecimentos, e as variantes de cada uma delas.
3. Língua Materna/Língua Nacional E Espaço De Enunciação
Dentro da configuração política na qual analisamos a língua e na conjuntura atual do mundo pesquisamos como a língua é elemento constitutivo do Estado e de identidade nacional. O político como afirma Guimarães (2000) esta distribuído desigualmente produzindo uma historicidade especifica que determina o modo como o sujeito se inscreve na linguagem.
Em alguns estudos a língua materna e língua nacional são tratadas uma como a outra. No Brasil a língua oficial é língua portuguesa que é utilizada de forma culta na escrita, nas publicações de livros, através de operações sócio-culturais, políticas e religiosas, mas varia na linguagem falada, pois determinadas regiões do nosso país possui os seus dialetos.
Em contextos de bilinguismo o funcionamento da língua materna num espaço de enunciação que já tem uma língua nacional regulando este espaço. A outra língua compete com o português. Nesta pesquisa foram analisadas a identidade alemã nas cidades Entre Rios e Witmarsum localizadas no Paraná. Nesses locais acontece o entrecruzamento das línguas alemã e portuguesa, neste espaço o falante é bilíngue.
A relação entre as línguas no espaço de enunciação não se dá numa disputa de línguas nacionais, mas num litígio de línguas que se refazem e convivem enquanto determinantes de identidade destes descendentes de alemães. O espaço de enunciação são espaços de funcionamento da língua, habitados por falantes. Estes são espaços de litígio, de disputa das línguas pelas línguas. Neste sentido os espaços de enunciação são espaços políticos. Somente pensando a língua como relação com outras línguas, é possível entender a língua materna como constituída pela materialidade de duas línguas.
No espaço de convivência de mais de uma língua, os falantes distribuem as línguas neste espaço, dividindo-os e os refazendo-os o tempo todo, pois cada uma das línguas opera uma função social de qual o sujeito faz uso. É a língua que constitui o sujeito e constitui sua relação com a sociedade.
A identidade de determinação esta determinada pela relação com o Estado do mesmo modo que há a dominação da língua nacional frente às outras. A língua nacional é a língua que determina o sujeito como pertencente a uma comunidade.  O sujeito se determina pela língua nacional, pois é ela que regula as relações com as outras línguas que dividem o espaço de enunciação e determinam as identidades sociais que os constituem.
 
Bibliografia
Schumm, C. S. G. Um Estudo Enunciativo De Uma Política  De Línguas: Uma Identidade Misturada. Campinas: PG-IEL/Unicamp. 

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